segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Onde encontrar?





Um dia joguei búzios

E seu nome estava lá.

Não quis acreditar

Pois nem sabia de você

E o tempo veio

E os amores vieram

E novamente li as cartas

Seu nome lá – ignorei.

Mais tempo ao tempo

E mais vida e trabalho

E mais histórias escrevi

Até que a cigana leu a minha mão

E viu você lá

Aceitei lhe aceitar

Mas onde lhe encontrar?

Nem mesmo sei por que caminho começar

Nem mesmo sei como é o seu olhar

Já sonhei um sonho bom com nós dois

Já senti sua presença na rua

Como se você sempre estivesse comigo

Mas sei que não está

E onde lhe encontrar?

Levarei seu nome aos quatro cantos

Procurarei seu sorriso onde quer que esteja

Seguirei sua voz se me disser que sim

Não lutarei mais contra o destino

Agora aceito que somos um do outro

Não vamos mais fugir

Eu sei, sim, e eu quero

Resta saber de você, se você sabe

Se você quer...

Seguirei o seu cheiro

Apareça em meus sonhos

Só mais uma vez

E não o deixarei escapar

Estamparei nossas fotos

Em todos os murais

Contarei ao mundo do nosso amor

Versarei os mais emocionantes

Versos de nossa felicidade

Mas só preciso saber

Onde lhe encontrar.





Letícia Andreia

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Falso sonho

Pode ouvir este poema em MP3 clicando no link:




http://www.mp3tube.com.br/audio/FALSO_SONHO_DE_LETICIA_ANDREIA



O país se desespera

Quando o morto vivo impera

Na falsa democrática nação

Não há mais a menor condição

De se dizer pátria amada, idolatrada.

Lança-se aqui a toda sorte

A forte corrupção.

Que herança é essa

Que temos na veia?

Não dá pra fugir ou viver alheia.

O país se desespera

Quando o morto vivo impera

À falsa imagem de crescimento

Nós povo vivemos no lamento

Não ouvido, mas muito sentido

O grito mais forte é mais temido

E se gasta até o que não é permitido.

O país se desespera

Quando o morto vivo impera

O silêncio nos é imposto

Na distração de todo dia

E escândalos um após o outro

A torto e a direito é a mesma decepção.

A violência antes dos grandes

Agora se faz presente nos menores –

Nos pequeninos.

O país se desespera

Quando o morto vivo impera

Impõem-nos uma ditadura silenciosa

Nossos olhos a tapar

E muitos a acreditar

Que crise aqui não há.

Preferiria a ditadura aberta

A essa falsa liberdade armada.

Hoje nos calam com mais maldade

Que nos tempos da repressão

Atacam fundo e mais profundo

No mais fraco da nação.

O país se desespera

Quando o morto vivo impera

Na falsa democracia de então

Não há mais a menor condição

De se dizer “Ó pátria amada – idolatrada”.

O país se desespera

Quando o morto vivo impera

Reprime-se hoje no ponto mais fraco:

O sonho.

Antes se reprimia a voz.

E o sonho não morria.

Agora, sem sonho e sem voz

Vive-se sem credo e sem ego.

O país se desespera

Quando o morto vivo impera

Até na educação

O educa caiu ao chão

Os olhares desgovernados

Dos nossos governantes

Já não olham mais pra nós

Com o carinho dos amantes

De antes das eleições.

E nossos olhos já não mais olham

Já não mais olham contra o governo

O caos é instalado

E nos sobra o desespero.

O país se desespera

Quando o morto vivo impera

“E agora? E agora, José?”

- perguntou um dia o poeta.

Pois a festa não acabou

E tem tanta gente ainda

A ser servida...

E de buchos vazios

Encheremos nossas barrigas

Com falsos sonhos

Não sonhados por nós

Nos impostos a cada dia.

O país se desespera

Quando o morto vivo impera

...







Letícia Andreia

Sempre em frente


Poema que foi transformado em música:

http://www.mp3tube.com.br/audio/Sempre_em_Frente_-_Letra_de_Letícia...





SEMPRE EM FRENTE



Letra: Letícia Andréia /

Música: Rogério Ramos /

Intérprete Cecília



Das nuvens feitas de algodão

O sonho renasce com o sol

Manhã em cada coração

Todo dia é um novo dia

Presente saltitante de emoção

Nada que esmoreça a melodia

Senhores donos do destino

Semblantes marcados

Doce sorriso

A alegria é o tom desta canção

O recomeço nasce com o sol

Enquanto partilha a fé de uma nação

Senhores donos do destino

Não há triste palavra que esmoreça

É hora de soltar o menino

Desde que a velha esperança

Sempre permaneça

Liberte desta prisão

Eis que surge a estação

Primavera ou verão

Nada foge deste chão

Das nuvens feitas de algodão

O sonho renasce com o sol

Cair não é perder

Não é em vão

O sonho renasce com o sol

Esperança não se apaga com a razão

É Doce a melodia

Das nuvens feitas de algodão

O sonho renasce com o sol

Cair não é perder não é em vão

O sonho renasce com o sol

Esperança não se apaga com a razão

É doce a melodia

Eis que surge a estação

Primavera ou verão

Nada foge deste chão

Das nuvens feitas de algodão

O sonho renasce com o sol

Cair não é perder

Não é em vão

O sonho renasce com o sol

Esperança não se apaga com a razão

É doce a melodia

Das nuvens feitas de algodão

O sonho renasce com o sol

Cair não é perder não é em vão

O sonho renasce com o sol

Esperança não se apaga com a razão

É doce a melodia

Meus olhos.

Meus olhos

nos teus olhos
encontram:
a sabedoria
o amigo
o amante.
Meus braços
nos teus abraços
encerram:
o desejo
o carinho
o apego.
Meu mundo
no teu mundo
entrelaça:
a maturidade
a juventude
a união.


Letícia Andreia

Qual o preço?

O som dos pássaros pela manhã,


Não tem preço.



O som da chuva sem tragédia,

Não tem preço.



O calor do sol sem exagero,

Não tem preço.



A brisa leve sem poluição,

Não tem preço.



A natureza em cápsulas

Que encontramos nas farmácias

Para cura de muitos males

Do corpo e da alma...

Não tem preço.



O sorriso de um transeunte descompromissado,

Não tem preço.



O choro de uma criança ao nascer,

Não tem preço.



O brilho no olhar de um amante,

Não tem preço.



Não tem preço a vida que se leva

E o que se leva da vida é nada ao partir.





Letícia Andreia

Tentativas

Tentei escrever poemas profundos


Para pessoas profundas

De nada adiantou o não ser

O ser me corrompe a nada

E quanto mais leio poemas do mundo

Mais sórdida é minha poesia

Tentei escrever para quem lê

Algo que ainda não tinha sido lido

De nada adiantou os dedos em vão no teclado

A alma de poeta está incompleta

Vazia

( )

E as palavras permanecem banais

Com um despropósito qualquer

Tentei reorganizar antigas palavras

Para desgastá-las num sentido completo

Que missão dolorosa essa minha

O vazio dói quando toma conta a passagem do tempo.

Tentei escrever poemas descompromissados

Poemas chulos

Poemas de ais

Poemas de amor

Para pessoas do mundo

De nada adiantou tanto ser

A alma de poeta continua incompleta

Vazia

( )

E as palavras permanecem no sótão

Perdidas

Desconectadas

Tentei reorganizar histórias alheias

Silêncio profundo

Dói mais Dói mais quando olho o outro

Tentei cantar o cântico das almas

Tentei expor os meus sentimentos

Casulo. Nulo.





Letícia Andreia

Não importa





Sei que não o verei de novo.

Só palavras tolas foram ditas

E assim foi nossa despedida.

Não adianta, agora, lamentarmos

Não há uma luz no fim do túnel

E vulnerável foi nosso tempo

Que se entregou ao desamor.

Sabemos que não nos veremos novamente

Nem de relance nos encontraremos

E o acaso já não pertence mais a nós.

Não adianta nem querer lembrar

Não adianta nem querer voltar

Pois o tempo não tem volta

E o que foi dito continua vagando no espaço.

Sei que não se lembra mais de mim

Sua memória está repleta de novas histórias

Seu caminho agora é outro

E não mais nos encontraremos.

Nem mesmo que o acaso queira

Pois fugiremos eternamente de nós dois.

E quanto mais caminhos

Mais distantes permaneceremos

Também não há razão para voltar

Não há mais tempo para nós

E sei que não o verei novamente

E tanta coisa ficou sem se dizer

E tantos sonhos ficaram sem ser concretizados

O mundo interrompido pelo seu novo amor.

Sabemos que não nos veremos novamente

E não importa mais a nossa história de amor

Não importa mais nem mesmo se você me amou.





Letícia Andreia

Intervalo

Você poderá ouvir este poema em:


http://www.youtube.com/watch?v=pMe-1QMamTs&feature=plcp



Onde estou agora?

Tão perdida

Tão distante

E essa melodia que

Ecoa no sótão escuro

São tantos tons

Deixados para trás

São tantos sons

Nesse vago silêncio

São tantos ecos

Das vozes não ouvidas

São tantas palavras

- não pronunciadas

- não escritas

- não usadas por nós

: desordenadas, agora,

No sótão escuro

Onde estou agora?

Tão perdida

Tão distante

E você? Onde está?

- que não me ouve.

Não me diga não.

Não desta vez.

Sabemos um do outro.

Sei bem que foge e fujo.

Sei bem que tão triste

É nossa melodia

Que ecoa no sótão escuro.

Sabemos que um dia foi belo

Que um dia era tudo claro

Era tudo sonho e promessa.

Não me diga não.

Não desta vez

Que estou no sótão

... e está tão escuro...

E perdida estou

Sem vendas

Sem luz

Sem sonhos

Sem rumo

( )

Não fuja mais de mim

P R O M E T O !

Não fugirei mais de ti.





Letícia Andreia

Instantes


Hoje o sol brilha lá fora

e tudo me parece mais alegre.

E esse azul do céu

Faz-me voltar para meu íntimo:

calmo

tranquilo

esperançoso.

Solto os laços dessa melodia

tão contagiante

- um penhoar reconfortante.

Tento não prender-me

a essa maresia de prazeres.

Ouço seu olhar

numa nuvem que passa.

Sinto harpas tocarem

a melodia de nós dois.

Meu desejo é não estar aqui!

Cerro os olhos

Imagino a onda a banhar meus pés

e lentamente entro na água gelada

Hummmm...

É tudo tão horizontal

Pra lá do mar...

E aqui,

Tudo tão vertical...

Sibilo seu nome para o mar

e a brisa quente o silva

de volta, sílaba por sílaba...

E esse som magnífico

percorre minhas longas melenas

num compasso sem igual.

Que prazer estar lá,

no meio das ondas

junto ao pouco

que o vento me traz de você.

É inaugural esse novo sentido:

Tão perto e tão longe

Tão seco e tão molhado

Deixo-me invadir um pouco mais

E mais...

E mais.....

Taciturno, meu olhar procura o seu

no vazio do horizonte.

O nó da garganta afrouxa calmamente...

A sensação é esplendorosa.

Posso sentir suas mãos

afagarem meu torso

e, mofino, é como fica meu coração

ao abrir os olhos e...

e... cá estou eu

atrás deste balcão de mármore

azulejando meu amor

nas paredes deste coração fatigado

Longe do mar

Longe de você

Longe de todos os sonhos

que sonhei para nós dois

um ar sombrio me invade

e de repente ...

o azul do céu se esvai.

Retomo minha rotina

melancólica da sua ausência.

O vazio ocupa seu lugar em mim.

É aí que está!

É aí que quer ficar.

Até quando?



Letícia Andreia

Os cravos





Brinco eu, cá da infância

Num jardim de cravos roxos

E outros púrpuros...

Tal qual o espírito condiz:

Numa solidão inconstante

Donde qualquer capricho se ausente.



Por trás do craveiro,

Uma sala de estar,

Onde um cravo inebriante

Se põe a tocar...



Imagino eu, cá dos quarenta,

Quais mãos o acariciavam

Em uma melodia tão doce e atenta

Que hoje lembra: um cravo-de-amor

Cravado no peito

Causador de saudade extrema

Algemado está a tal problema

Que inerte se esvai...

Pulsos cerrados

Mãos aos teclados...

Ausente ao cravo no peito dilacerado

À cruz

Ao calvário

Nas mãos e nos pés

De um Jesus crucificado.



E dos cravos na cútis adolescente

Tal folículo sebáceo irrompe

A infância num golpe solene



E cravos dolorosos

Aprofundados no derma –

Na planta dos pés cansados

Do caminho doloroso

Deste coração fatigado.



Interrompem a canção – ferraduras

Ferraduras que no asfalto trotam

Pregadas a cravos no cavalo sereno

Trazem consigo um cavaleiro

De olhar distinto

E nas mãos,

Um embrulho de cravos vermelhos

A demonstrar a paixão, o amor e o respeito

Almejados nos contos de fadas.



E o cravista na sala de estar

Encrava as mãos nos teclados

E os tons afora angustiados

Ecoam do passado ao presente

- os cravos do canteiro

- os cravos vermelhos

Nas mãos do cavaleiro

- os cravos nos pés cansados

- os cravos da adolescência

- os cravos do respeitável ancião

- os cravos nas mãos e nos pés da cruz

- os cravos sob o cavalgar e a ferradura

...

Os cravos de amor, cravados no peito,

Provocam um precoce adeus

Desta vida desiste

E de todos os cravos aqui vividos

Sobra o féretro

Encorpado de cravos

Num descanso tranquilo

Em cravos-de-defunto perfumados.







Letícia Andreia

Primeiras vezes




Há muitas primeiras vezes

Primeira vez do sim

Primeira vez do não

Primeira vez que fica

Primeira vez que vai

E agora

A primeira vez do então



Primeira vez na escola

Primeira vez que cola

Primeira vez que fala

Primeira vez que anda

Sozinho pela estrada

Seguindo na contramão



Primeira vez do beijo

Primeira vez do amor

Primeira vez na cama

Primeira vez que ama

Primeira vez na dor

Por causa do desamor



Primeira vez que casa

Primeira vez que descasa

Primeira vez na dança

Primeira vez no tombo

Primeira vez que voa

Primeira vez que pula

Primeira vez que desce

A montanha na noite escura



Primeira vez da carona

Primeira vez do fogão

Primeira vez que pica

O verde pimentão

Primeira vez que viaja

E abandona a estação

Primeira vez do trem

Primeira vez do além

Primeira vez que pensa

No horizonte do caminho



Primeira vez que ri

E sorri devagarzinho

Primeira vez que bebe

E de ressaca amanhece

Primeira vez que corta

O cabelo já na cintura

Primeira vez que sai

Do casulo da tartaruga

Primeira vez que corre

Contra o tempo de sua idade



Primeira vez que olha

Primeira vez que falta

A voz rouca da garganta

Primeira vez que cruza

O labirinto e nada teme

Primeira vez que finge

Um orgasmo pela metade

Primeira vez que cutuca

O animal com a vara curta

Primeira vez que educa

Um homem de calças curtas



Primeira vez que sonha

Primeira vez que se realiza

Primeira vez no mar

E a primeira tatuagem

Na alma marcada a sangue

Primeira vez inocente

Primeira vez que vota

E a primeira desilusão

Primeira vez que pena

Primeira vez distante

Primeira vez que esquece

Primeira vez de uma primeira vez

De tantas primeiras vezes



Primeira vez que falta

O papel na escrivaninha

E a primeira vez que fica

A poesia inacabada







Letícia Andreia

Olhos cinza


Olhos cinza

De um não sei o quê

Desde que seus olhos

Tocaram os meus

Não sou mais a mesma

Desde que seus olhos

Seus olhos cinza

Cinza não sei por quê

Os meus olhos cruzaram

Não pude mais seguir sozinha

Subindo para as nuvens

Estou viajando em você

Desde que seus olhos

Seus belos olhos cinza

Tocaram meu corpo

Não pude mais ficar só

É como se de repente

Você preenchesse minha solidão

Lamento que seus olhos cinza

Digam-me tantas mentiras

Sim, eu sei,

Eu realmente sei de você

Apenas no seu olhar

Eu posso dizer

Que você me quer

Que seu desejo é intenso

Mas que na verdade

Não é só meu

Ah! Olhos cinza

Ora cinza com cinquenta tons

Ora cinza como o chumbo da tempestade

Ora cinza como a bruma

Que desaparece pela manhã

Mas sei bem que mente

Seus olhos cinza mentem

E você não é só meu

E você alcançou minha alma tão bem

E sou tão sua

E tola por querer sempre assim

Eu não posso continuar

Eu não posso seguir seus passos

Entro num abismo de indecisões

E seus olhos cinza

Me consomem por dentro

Posso desvendar seus segredos

Posso acompanhar seus mistérios

Mas não posso mais viver sem você

Já me esqueci do equilíbrio

E a loucura, agora, me possui

E seus olhos cinza

No castanho dos meus

Fazem a diferença

Entre um dia de sol

Ou chuva

E todos os dias com você

São de sol

Estou bronzeada de amor

E esses olhos cinza

Olhos de um não sei o quê

Sempre mentem

Mas eu sei

Ah! Pode crer! Eu sei.







Letícia Andreia

Tocata





O poeta traça

Linhas tortuosas

Na tábula rasa

Mal sabe a voracidade

De seu trabalho

Não há hora

Não há tempo

Não há lamúria

Nem cobranças...

Nem tudo o que se

Diz é ouro

Nem tudo o que se

Lê é prata

De nada valerá

O roçar da pena no papel

Senão as nugacidades

Do dia-a-dia

E entra assim,

Num mundo sem limites,

Um poeta sem vertical

Horizontal em sua arte

E curvilíneo em suas palavras



Dobra-se o sino

Num rompante em badaladas

E o poeta inerte

Em seus delírios

Na “arte de rasgar a noite”

Adentrando as madrugadas

Sem dó

Nem ré

Nem lá

Apenas um transeunte

Da vida afora

Transformando seus sonhos

Seu mundo

Num labirinto palavroso.





Letícia Andreia

Última hora







Dispenso o testamento

Por ausência de bens.

Basta-me a nuncupação

Em meu leito de morte

Seja ela onde e quando for

E não importam as testemunhas

Sendo que qualquer boca

Levaria, afoita, de boca em boca

Meus aforismos de uma breve vida

E morte prematura.

Nos bastidores presentes

Pespontarei palavras

Avulsas e sem nexo

Como um pobre cão

Que não tem coleira

Mas paga impostos

E muitos

E juros

Não ornarei o soneto

Nem rechearei de lero-lero

Nem saquearei do esturjão

O necessário para o caviar

A ser servido no velório

Pois caras e bocas

Lá, presentes, estarão,

Que em vida, nem um “ai”

Trocaram a mim.

Do que a morte mais garrida

Nesse momento será bem-vinda.

Dispensarei, também,

A laudatória da madrugada

E da hora sóbria

De cerrar o féretro

Pois já não poderei

Auferir benefício algum

Ou qualquer

Ou nenhum

De toda a verborragia póstuma.

Um canto lírico será proferido

Ao findar os últimos minutos

- pode ser “My Way”

E que alguém recite este ou

O “Poema da Minha Hora”

E com lírios hei de ir

E bem vestida para a noite

Pois a noite atravessarei

E passarei a maior noitada

Sem rumo e onde não sei ir

E estarei pronta

Para a hipertrofia dos vermes

Pós-sepultamento

Em clausura com a terra

E vagabundeando seguirei

Num Zepelim de almas

Até o Zodíaco de Touro.





Letícia Andreia





Ando só

E tão só

Nos meus pensamentos sombrios

Ando só

E tão só

Tão somente eu e o vazio

Ando só

E sem você

Nada completa o meu ser

Claramente, hoje vejo

Quanto tempo dedicado a você

E a alegria de viver

Agora tem outro sentido

Ando só

E tão só

E pelas ruas seguindo

Sua história feliz

Nada mais tão bonito

Ando só

E sem você

Nos meus sonhos tardios

E essa gente me vê

Insiste em me querer

Mas a dor que me invade

É a ausência de você

Ando só

E tão só

Tão somente a esperar

Ter de novo seu olhar

E seu colo tocar

Ando só

E tão só

Tão somente eu e o vazio

Nesta sombra em que vivo

Ando só, meu amigo.

Ando só

E tão só

Tão somente vazio.





Letícia Andreia

Acorde





Ei, acorde!

Não prenda a respiração

Volte!

Volte logo!

Ainda não é o fim.

Não se deixe entregar num rompante.

Acorde logo!

Quanto mais tempo inerte

Menos vida em seu sangue.

Esteja de pé

Sempre de pé e olhar erguido.

Encare tudo com garra

Não tema o precipício

Não se deixe levar

Encare, encare o céu

E viva, não durma.

Não se separe de você.

Ainda encontrará o seu número.

Ei, acorde!

Esse pesadelo irá acabar.

Mesmo que distante pareça

Mesmo que o pesadelo não tenha fim

Mesmo que lágrimas insistam em rolar

Mesmo que desanime

E mesmo que desamparado sinta

Acorde!

Veja quão belo está o dia

Saia, passeie, divirta-se

Isso parece sem propósito?

Não! Ainda não é o fim.

Encare o céu

Há de se encontrar na imensidão do azul.

Ei, acorde!

Mais vida.

Mais sorriso.

Mais coragem.

E se o mundo insistir em desmoronar

Acorde.

Não tema o precipício.

A história só está começando.

Ainda há muito chão pra rodar.

Acorde!

E volte para si.

Volte para continuar e ser feliz.





Letícia Andreia

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Polidez





Discutivelmente superficial.


É nada.

É formal.

É virtude de etiqueta.

É virtude de aparato.

É ambígua:

esconde-se nela

o melhor e o pior.

Qualidade formal

necessária aos homens.

Não diga isso.

Não faça aquilo.

Não também ao acolá.

É feio.

É sujo.

É inadequado.

Resume-se à coleira humana.

Os cães não necessitam da polidez.

Os homens sim!

Pode parecer crime se não o for.

O homem que não é

encontra-se insensato e...

logo...

sozinho.

Agora entendo porque o cão

é o melhor amigo do homem.

Encontro em meus cães

tal comportamento polido.

Vejo, logo, que o cão é o espelho.

Espelho de seu dono.

É o não.

E o não.

E aqui não.

Aprende-se fácil.

Depois,

difícil é não sê-lo.







Letícia Andreia

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mais uma onda

Onda que anda e ronda

Onda que bate e vem

E vai e vem

Onda que tira onda

De onde a onda vem

Onda que me ronda

E anda rondando bem

Onda que de sete em sete

Eu conto a fartura que tem

Um dia falei da onda

Mas já não me lembro bem

Li hoje uma outra onda

E na pena outra onda vem.









Letícia Andreia

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Tentativas

Tentei escrever poemas profundos


Para pessoas profundas

De nada adiantou o não ser

O ser me corrompe a nada

E quanto mais leio poemas do mundo

Mais sórdida é minha poesia

Tentei escrever para quem lê

Algo que ainda não tinha sido lido

De nada adiantou os dedos em vão no teclado

A alma de poeta está incompleta

Vazia

( )

E as palavras permanecem banais

Com um despropósito qualquer

Tentei reorganizar antigas palavras

Para desgastá-las num sentido completo

Que missão dolorosa essa minha

O vazio dói quando toma conta a passagem do tempo.

Tentei escrever poemas descompromissados

Poemas chulos

Poemas de ais

Poemas de amor

Para pessoas do mundo

De nada adiantou tanto ser

A alma de poeta continua incompleta

Vazia

( )

E as palavras permanecem no sótão

Perdidas

Desconectadas

Tentei reorganizar histórias alheias

Silêncio profundo

Dói mais Dói mais quando olho o outro

Tentei cantar o cântico das almas

Tentei expor os meus sentimentos

Casulo. Nulo.





Letícia Andreia

Era...

E era a vida arcada de mimos


E era o estudo com seus compromissos

E era o amor em seu princípio

E era a ilusão montada a cavalo

E era a desilusão a chegar sorrateira

E era o momento o mais importante

E era o ser o ter que ser

E era o amanhã que chegava depressa

E era o silêncio que valia ouro

E era o jogo no fim da vida

E era a vida necessitada

E era a crise já não temida

E era o lar tão improvisado

E era o filho que nunca chegava

E era o blefe nas contas da vida

E era o ano que sempre virava

E era a água que não acabava

E era a casa desarrumada

E era o silêncio tão necessário

E era um a mais já falecido

E era um túmulo a ser visitado

E era a saudade amarrada no peito

E era uma história pra plantar na memória.





Letícia Andreia

,

Bagagem desnecessária para a morte:

Inveja


Casa

Carro

Sítio

Ilusão

Avareza

Dinheiro

Ira

Inimigos

Trabalho

Medo

Luxúria

Roupas

Estudos

Nome

E sobrenome

Preguiça

Telefone

E solidão

Passaporte

Internet

Soberba

Poder

Gula

Doces

Bebidas

Massas

Carnes

Dietas

E silêncio.





Letícia Andreia

Papelão

Das brincadeiras de criança

Se faz aquela mulher

Nua dos preconceitos

Carrega seu carro

Carregado de papelão

E ora

E roga

E chora

E ri

E faz a hora gotejar

Seus dia úteis

Inúteis

Pela cidade afora

Das brincadeiras de criança

Abandonada no jardim

Jaz em ti

No teu túmulo

Transeunte ou vagante?

Os sonhos de uma bela mulher

Que roga

Que ora

Que chora

Que ri

Que faz e desfaz

Os sonhos de criança

Moça-mulher

Agora és

Apenas o túmulo

De teus sonhos

Sonhos de qualquer um.





Letícia Andreia

Futeboléxico

Brigamiopia


Bebidagressividade

Ilusiotopia

Insultoterapia

Inimigosofia

Perdadetempismo

Decepcionismo

Contagiofutebolismo







Letícia Andeia

Natureza

A natureza parece negligente


Ela insiste em continuar vivendo

Por maior que seja o esforço

Do homem em destruí-la.



Ouço uma serra elétrica compondo o nada

Trabalha incansavelmente na alegria de derrubar

Os pássaros perdem suas moradias

E vagueiam sobre os homens.



Os troncos já não dizem mais o que estão fazendo

- não dão conta.



Mas ainda sabemos o que estamos

Fazendo com a natureza.



Quem vai recitar o amanhecer para mim

Depois que a festa acabar?





Letícia Andreia

Qual o preço?

O som dos pássaros pela manhã,


Não tem preço.



O som da chuva sem tragédia,

Não tem preço.



O calor do sol sem exagero,

Não tem preço.



A brisa leve sem poluição,

Não tem preço.



A natureza em cápsulas

Que encontramos nas farmácias

Para cura de muitos males

Do corpo e da alma...

Não tem preço.



O sorriso de um transeunte descompromissado,

Não tem preço.



O choro de uma criança ao nascer,

Não tem preço.



O brilho no olhar de um amante,

Não tem preço.



Não tem preço a vida que se leva

E o que se leva da vida é nada ao partir.





Letícia Andreia

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cegueira

Seu Tonico estava cabisbaixo hoje
Disse que o olhar do cego estava mais triste
Não conseguiu vencer a morte no seu fio de sono
A dor se ser semente e exemplo doía mais que os outros dias
Do coito com a cegueira nasceu uma felicidade intocável
de ver o mundo com outros olhos - os olhos da alma -
E isso Seu Tonico não entendia ( ou não queria saber)
Do alto da sua perfeição Seu Tonico não compreendia
A complexidade daquele mundo tão simples - tão puro
Atou-se ao rosário de piedade e dedicou uma toada melancólica
Ele jamais entenderá que não só de olhares vive um homem
Mas de muitas palavras - mesmo que não ditas
Perguntei-me: - De quem afinal seria a cegueira?



Letícia Andreia

domingo, 25 de setembro de 2011

Brasil

Um Brasil brasileiro
Que encanta a todo estrangeiro
Que da terra saboreia tudo o que dá.
Um Brasil bem brasileiro
Com origens mil e povo hospitaleiro.
Um Brasil de aves raras e silvestres.
Exótico é o meu Brasil
Encanto e berço multicor
De regiões fartas de forte cultura
E comidas de muito sabor.
O Brasil que gosto me dá:
Frutas do Norte
Açaí, abricó, araçá,
Bacaba, bacuri, biribá,
Fruta-pão, carambola, cajá,
Graviola e ingá.
Jambo, jenipapo, mangaba,
Pinha, sapoti, pitomba e piquiá.
Tamarindo, tucumã e uxi.
Do Sul o churrasco saboroso
Ganha em todo o Brasil.
Das matas de araucárias
A imbuia, a erva-mate e
O pinheiro-do-paraná.
Alemães, italianos, poloneses e ucranianos
Região mais forte que esta
No Brasil não há.
Região Sudeste:
Orgulho-me de ser de cá.
Pão de queijo – leite – café
Pro lanche das cinco melhor não dá.
No Rio de Janeiro nossas praias e mares
Cartão postal do Brasil.
No interior, os mares de montanhas
Das nossas Minas Gerais –
Terra do ouro e povo desconfiado.
Em Sampa as melhores indústrias
E muito trabalho.
Na Região Centro-Oeste
Mesa farta em pesca.
As cores, a fauna e a flora do Pantanal
Não há nada igual.
Carnes saborosas:
Catítu, cobra e porco do mato,
Capivara, paca e veado.
Terra de danças, violeiros e viola.
Do Nordeste gosto bem
Muito coco, samba de roda, baião,
Forró, xote e chachado.
Literatura de cordel lá é forte
E os artistas de lá
No Brasil têm muita sorte.
Chapada Diamantina e do Araripe
Grande sertão e seca também há lá.
Brasil
Bem Brasil brasileiro
Venha também estrangeiro
Saborear tudo que nossa terra dá.





Letícia Andreia

Solidão

A solidão me consome aos poucos


Já não tenho assunto para os outros

Estou vazia das mesmices

A poesia dominou-me

E meus lábios não se movem

As palavras estão gastas – desbotadas.

Rasgadas pelo uso incontínuo do lirismo

Tudo isso parece tão igual

Desfaço meus versos para repensá-los

Nada obtenho – escassez do pensamento poético

E a solidão me consome

A cada dia mais só

Mais pó

Mais eu.







Letícia Andreia

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Rotina das férias

Verticalizei as sete e quarenta e cinco

Nem mais
Nem menos
Exatos.
Impressionante!
A poesia dos pássaros
Entoava o canto melancólico...
O sol ainda não saíra.
E eu... Já de pé
A trocar as fraldas da casa.
O sol espreguiçava seus raios
Pelos vazios das nuvens chumbo.
O anjo entregava-se ao sono profundo
No leito de amor.
E nem mesmo o tilintar do martelo
Na construção vizinha
O fazia desintoxicar-se do ébrio sono.
A primeira fralda a ser trocada
Foi a do canil.
As cadelas corriam para o portão
A dar seu bom dia à rua.
Os homens caminhavam automaticamente
Para suas rotinas...
E eu, agonizava poesia
Entre um balde de água e outro
Pelo lápis e retalho de papel.
Os pardais insistiam em dar
Bom dia ao preguiçoso sol.
As cadelas mal se importavam
Com o mundo cão que lavrava lá fora.
E brincavam...
E enamoravam a rua...
E sentiam-se imensamente felizes.
Um galo atrasado canta.
As aves realmente se importam
E imploram pelos raios de sol.
Duas horas mais tarde...
Fraldas da casa trocadas
Cadelas limpas
E alimentadas.
É hora do almoço.
Desenho o cheiro da comida mineira
E toco em frente a rotina das férias.

Letícia Andreia

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

.

Meus olhos

nos teus olhos
encontram:
a sabedoria
o amigo
o amante.
Meus braços
nos teus abraços
encerram:
o desejo
o carinho
o apego.
Meu mundo
no teu mundo
entrelaça:
a maturidade
a juventude
a união.


Letícia Andreia

Poucas palavras

O guardador de águas

surpreendeu-me sentada à beira do rio.
Indagou à margem
qual era a minha sina.
O silêncio cristalizou o segundo.
Compreendeu, então,
a dor da solidão.


Letícia Andreia

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Lembrança

Lembrança é madrasta comigo

Carrega mato de memória adentro
Criança não deseja entrar
Memória deu empurrão
Pro eu perder na mata do passado
Presente ficou perdido
Sem chão para pisar
Não gosto de lembranças
Elas são atrevidas comigo
Entram sem avisar
Bagunçam a casa
E, depois...
Depois?
Começa tudo outra vez.


Letícia Andreia

Incontinência poética




Incontinência poética.
- disse isso ao acaso.

Doutor, esse poeta sofre
De uma grave incontinência poética.
Sua mente febril delira
E a necessidade de liberar poesia
Emana pelos poros da caneta
E suja o papel
- que não reclama.
- É grave – diz o doutor – Não há
O que fazer senão deixá-lo escrever
Escrever escrever escrever
Sua incurável incontinência poética.

Letícia Andreia

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Murmúrio





Ouça o murmúrio surdo
De um coração calado.
É valente!
Quem não o é
Quando fala o coração.
Um covarde desertou
Seu coração para verme.
Que pena!
Um covarde a mais na vida frustrada.
Um guerreiro amordaçou seus ouvidos
Para que não ouvisse a voz da razão.
Esse é feliz!

Letícia Andreia

Crepúsculo



Espero ardentemente o crepúsculo
Da minha vida.
Foi uma vida inteira que não tive,
Um vasto campo a ganhar,
Mas as horas, traiçoeiras,
Faltaram-me no momento “H”.
Agora? O que me resta?
Lembranças...
Nostalgias...
Tudo apagado.
Até mesmo o afago ficou no sótão
-quieto, apagado sem me encontrar.
De onde venho?
Onde estou?
O que me resta?
Para onde vou?
Fluir levemente qual bruma no lago?
Oh!, não, não faça de minha alma
Um mundo tão vasto
Que não se pode alcançar.
Quero viver.
Deixe-me viver.
Oh! Vírus, ingrato, fúnebre
Que enlouquece a humanidade.
Rastreio o sótão e... nada.
Nada encontro,
Nada consigo.
Só o sopro de minha ardente alma
Num grito brando de desafio.
Oh! Vida, onde andarás?
Depois da morte.
Não!
“O show deve continuar!”

Letícia Andreia

Equipe


admiro o trabalho em equipe
por isso admiro as formigas
fico na janela da cozinha
observando como elas se equilibram
no fio do poste
atravessam de uma árvore para outra por ele
costumam andar em grupo e,
quando uma vai e outro grupo vem,
tiram a sorte no par ou ímpar
quem passa por cima e quem passa por baixo do fio
as três passaram por baixo
e aquela - solitária - continuou
é assim a todo momento
o dia inteiro
formiga vai...
...formigas vêm
dizem que fazem morada no oco das árvores
fiquei pensando naquelas que cuidam do lar.

coitadas.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ainda não terminado:

Toc Toc Toc...
Peço permissão para parafrasear...
esse amor incorrigível
tão assim, romântico,
perdido nas ilusões ...
é o fogo ardido que não vemos
é a chaga aberta a nos martirizar
é a dor contente em amar sem ser
é a migalha do pão
ou o toque da mão
um sorriso meio torto, que seja,
mas é o amor...mesmo incorrigível...
e ainda que eu desenrolasse essa língua
e os nós desse amor eu desatasse
ah..eu nada entenderia
mesmo que bíblico
mesmo que poético
mesmo que amor...
é o amor: "fogo que arde sem se ver"...
mais contrario a si, amor,
é o coração que o sente.



Letícia Andreia