quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ainda não terminado:

Toc Toc Toc...
Peço permissão para parafrasear...
esse amor incorrigível
tão assim, romântico,
perdido nas ilusões ...
é o fogo ardido que não vemos
é a chaga aberta a nos martirizar
é a dor contente em amar sem ser
é a migalha do pão
ou o toque da mão
um sorriso meio torto, que seja,
mas é o amor...mesmo incorrigível...
e ainda que eu desenrolasse essa língua
e os nós desse amor eu desatasse
ah..eu nada entenderia
mesmo que bíblico
mesmo que poético
mesmo que amor...
é o amor: "fogo que arde sem se ver"...
mais contrario a si, amor,
é o coração que o sente.



Letícia Andreia

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Hoje, meu amigo Gilberto Vaz de Melo, postou-me algo intrigante.

Nada que eu não pense todos os dias...mas jamais alguém havia me dito meu próprio pensamento.
Vejam:
“Todos esses que aí estão atravancando “seu caminho”, eles passarão...
“você”, passarinho!!! (Mário Quintana)”
Inevitavelmente...o diálogo surgiu...
E num toque intertextual saiu do sótão o passarinho...




Eu, passarinho,
Da torre alta do meu ninho
Observo, eles, passarando
E eu tão sempre passarinho.
Cá do alto digo que estou
Não pela grandeza que julgo possuir
Mas sim da minha pequenez
Pequenez de passarinho.
E é só do alto
Do bem alto do meu ninho
Que vejo o quanto eles passarão
Porque eu apenas passarinho.
Não que estejam
Atravancando meu caminho
Não, porque somente eu
Euzinho
Do meu pequeno passarinho
Atravanco meu próprio caminho
Pois da minha inocência perdida
Quando distante estou do meu ninho.
Enquanto eles, passarando,
Querendo meu destruir meu quente ninho
Não sabem as penas, que duras foram
Pra fazer meu próprio ninho.
Eles, que passarando,
Desejosos do meu humilde ninho
Tramam injúrias impróprias
Da minha curta vida de passarinho.
E quanto mais passarão passarando
Cuidando de eu passarinho
Edifico e cresço
Na mais alta árvore
O meu aconchegante ninho.




Letícia Andreia
Zum zum zum
Zum zum zum
Tá no mio do nada
Atalho registrado em ata
Zum zum zum
Tá no cheio
E no meio do peito
Tum Tum Tum
Tá no batuque da caixa de bronze
Tá no passo
No passo
No passo
Zum Tum zum
Tum zum Tum
O quebra silêncio se envergonhou
De nunca ter sido
O queixo do queixo do mato
Abre a mata e o coração
No zun zum zum
Perdi-me da razão
No Tum Tum Tum
Anda que anda o coração
E o romance que não há
O coração não está
Emoção por vir a chegar
Tum Tum Tum
Zum zumzum
Tá no meio do nada.

Letícia Andreia

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Foram três ais.

Ai! Ai! Ai!
No ai primeiro,
Viu-se o homem ainda menino.
Recém saído de suas fraldas.
Engatinhando
Depois andando
E então falando.
Sapecando suas peraltices pelos quatro cantos da terra.
No segundo ai,
O homem já se desnudara para o mundo
E as coisas da terra
Viram-se descobertas
As peraltices ganharam novo prumo
E ai daquele que em seu caminho travasse línguas.
De tudo era um desbravador
De todos sentia-se superior
Conquistou bens
Realizou sonhos
Plantou uma árvore
Plantou um filho
Plantou um livro.
Sentou-se na plenitude do saber
Sentiu-se o dono das verdades
Sentiu-se o encantador das mentiras.
No ai terceiro,
Gastou tudo o que tinha,
Perdeu seus bens mais valiosos:
O amor
Os amigos
A família.
Sentiu-se só
Desamparado
Quis retroceder
Mas o tempo
Ai!
O tempo não para
Dilacera em verrugas a alma
E desse ai,
Tornou-se maduro
Sentiu-se pronto.
E já era hora
Não haveria tempo pra mais um ai
De quando em quando
As lembranças vinhas lhe povoar
Derramou lágrimas pelo tempo perdido.
Nesse ai terceiro,
Aprendeu o verdadeiro valor das pessoas.
E ai que chegou a hora do juízo final.
Dos três ais
Guardou as experiências
De nada terreno levou
E ai que se arrependesse de tudo
E ai que virasse humano

E ai que partiu sem pranto.


 
Letícia  Andreia

domingo, 27 de setembro de 2009

Fui ao céu falar com Deus
São Pedro não me deixou entrar
Chamou Irene pra me mandar embora
Irene me reconheceu
Deu um riso largo
Mandou que eu entrasse pela porta dos fundos
Entrei sem fazer barulho.


Letícia Andreia

Quero ser, agora,
O rato de esgoto,
Grande, gordo, dentuço...
Que ronda alegre
Meu triste fim.
No túmulo jaz
Minha história.
E a vida que aqui vivi.
Ficou o exemplo do que não fui.
Sou apenas o espírito que ronda,
Ronda, ronda e rói.
O rato do túmulo...
Sozinho,
Acompanhando os vermes.
Dilacerantes na carne morta.
Mas a alma,
Que jaz alma,
Agora liberta procura a paz.


Espírito.


Letícia Andreia

Para Marília Abduani



Para grande amiga, Marília Abduani.







Marília, Marília
É um som
Uma certa melodia
É pura poesia!
Marília,
Que do sonho conduz à realidade
E da realidade ao sonho...
Que lágrimas não vejo
E se existem, são diamantes.
Qual dor é a sua?
Ou onde ela se esconde?
Que não posso senti-la.
Apenas a poesia!
Marília, Marília...
Daí não sei se finge ou finjo
Se corre ou fujo
Se perto ou longe...
Quero ficar de você...
O eco da poetisa,
Por onde devo procurar?
Nem sei se quero encontrar...
Você, Marília,
Que não é de Dirceu,
Que não é Maria,
Mas, simplesmente,
Marília!
Simplesmente, poesia!
E agora, Marília?
E agora?
Que atrai e se espelha...
Se espalha e se entrega...
Marília, e agora?
Por quantas anda?
Onde está?
Tão perto e tão longe...
Quais mãos a leram?
Quais olhos a tocaram?
Suas dores, (que não há)
São as minhas alegrias
São as deles também.
É poeta, poetisa, então finge
E ao fingir sente
Este vale de lágrimas.
Se é bíblica, não sei.
Se é literária, não sei.
Se é profunda, eu sei.
Ou profana? Jamais!
Oh!, Marília,
Que pelo seu mar
Eu me desfaço – ilha.
Mar – ilha!
Mar...ilha!
Ilha...Mar!
Marília!
Eu viro e (des) viro
Eu faço e (des) farço (não des-faço)
Mas você, com seu mar,
Suas ondas a me golpear...
Minha farsa se (diz) farsa
E num instante de um traço
Nasce uma breve melodia:
Marília!
É mar...
Se é ilha...
É o fim da trilha!
É pura!
É bela!
É mar!
Não é ilha!
Apenas Marília!



Letícia Andreia 27/08/2003
Para o amigo poeta,  Gilberto


Muito bem, seu réu poeta,

teu repouso acorda meus versos

tua ilusão é minha doce mentira

teu amor é meu gozo prfundo

teu sussurro, meu grito mudo
teu erro, minha traição poética
teu sonho embala meus pensamentos
teu soluço, meu nó na garganta
tua observação é meu olho esquerdo
teu descuido, meu único pecado
ao declamares, embriago-me em teus versos
teu sofrimento, simplesmente,
réu poeta, é minha paixão.


Letícia Andréia

Um tango solto rola no ar


Ao imperador clamo a bailar

A nova busca se dispersou

O amor na música se apresentou

Baila Baila comigo

Dá-me o teu calor

Neste bailar colorido

Um tango a mais não fará mal algum

Um violino chama instintivamente

O bandoneón conduz ao ritmo

Pode até mesmo a gaita

Penetrar a alma

No compasso do coração

O bate bate

O bate bate do baixo

Faz vibrar a emoção

E venha comigo bailar

Venga...venga... ouça o violino

Yo me voy

Só mais um tango

Nesta vida quero este gosto

Baila comigo mais um tango

Não me importa que seja o último

Tã Tã Tã ....taaaarãrãrã

Tã Tã Tã ....taaaarãrãrã

Argentina, só mais um tango

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Mesmo que não voltes mais, imperador

Baila comigo só mais um tango

Mais este tango

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Argentina, só mais um tango

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Relembra o olhar que fuzilaste

O rodopiar do bailar no salão

É só mais um tango argentino

Mis manos locas

No se puedo

Tocar con ellas el cielo

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Cómo se equivocaron nosotros

Baila comigo

Pero yo quiero que bailemos este tango

Bien juntitos

Um tango solto

Mas envolto em nossos cariños

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Argentina, só mais um tango

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã



Letícia Andreia

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Amigo poeta,

quão grande é teu poema
quão distante estás de mim
quão perto nossos poemas se cruzam
quão belo o jogo das palavras......
não quero competir contigo...
ensina-me a meiguice de tuas palavras...
saltitantes no papel...
qual tábula rasa...
que nada ....
está mais para um tecido.


Letícia Andreia
Dizem-me louca
Uma loucura gostosa de ser
Um jeito meio muleca
Meio travesso no meio de tudo
No meio do nada
Um jeito feliz de ser louca
Uma loucura feliz de viver a vida...

Falam-me louca
De não entenderem o porquê
O porquê do meu jeito gostoso de ser...

Pensam-me louca
louca
louca
louca
Mas eu digo que ainda sou pouca
Popucas palavras...
Poucos vinhos...
Poucos rios...
Poucas estradas...
Poucos ninhos...

Acreditam-me louca
(doida varrida?)
Não posso crer!

Quão diferentes formas hei de ser?

Quando uns dizem da minha loucura
Sinto o desprezo que têm por mim.

Quando outros dizem da minha loucura
Lamento a inveja que sentem por mim.

Mas alguns...
bem poucos...
Ah! Alguns bem especiais...
Quando dizem, falam, pensam, acreditam...que sou louca
Fazem um carinho gostoso no ego.
É um jeito irregular
De se dizerem amigos
De sentirem orgulho
De se lembrarem
De valorizarem...

Só não posso permitir
O equívoco da loucura de ser poeta
Pois as palavras são muitas
Ecos profundos...
E eu?
Apenas pouca...
Louca!


Letícia Andreia

Para um conterrâneo que tenho tanto orgulho em chamar de amigo.

Canta e encanta com teu canto
Ó pássaro sem ninho.
Onde pousas com tua voz?
Onde encontras teu verdadeiro eu?
Quem diria...
que tua voz um dia...
que tua bela melodia...
silenciaria presa na garganta...
com teu canto preso... no oco das ações?
Jamais!
Solta teu canto...
a qualquer canto.
Qual canto a ti mais encanta?
Canta com teu canto o broto da vida.
Aquela vida perdida...
Os dias que não voltam mais...
Canta com teu canto...
o encanto que há na tua terra...
bela e serena.
Tua raiz...
Ó amante da guitarra
Teu lirismo traz alegria
Tuas noites não menos amenas...
nem menos insanas...
Teus dias mais risonhos..
Canta...
mas não senta a pua.
Nem vive apenas a sonhar.
Solta teu canto.
Pois teu canto a mim encanta
e pra ti eu faço um canto,
mas não tem o mesmo encanto
que os versos teus...
Tuas mãos na guitarra...
afrouxam o nó da garganta
e desliza a melodia pela lacuna do tempo.
Canta e encanta com teu canto mágico.
O mais puro...
O amável...
O sensível.
O mais belo canto.

Letícia Andreia

quinta-feira, 24 de setembro de 2009


Estou predisposta para o ato de escrever.

Momentaneamente a invasão da palavras

venceram meu tempo,

pouco a pouco...

e cá estou.

Transeunte relápsa entre as tumultuadas avenidas das palavras.

Abro os olhos e vejo uma geração dispersa.

Não é perversa - mas seus valores...

se corrompem.

Estou predisposta

E essa predisposição niquila qualquer trabalho poético.

O lirismo torna-se pendente,

o ócio torna-se o ápice.

Cerro os olhos

e o que vejo é a penunbra do passado.

Sua sombra nostálgica.

O pouso da libélula na água...

O círculo me centraliza para musgo.

Eu oca.

E nada faço contra.

Pois estou predisposta para o ato de desescrever.


Letícia Andreia

Homem - Semelhança:

Imagem!

Simbologia!

Dominação!

Homem versus consigo próprio.

Sistemas...

Simbologia.

Real!

Imediato!

Conjunto de abstrações?

- Coração humano!

Real - indisprezível - realigade.

Da mitologia:

Brama

Ícaro e Dédalo

e outros.

A religião.

A fé.

O pó.

O nó.

No princípio era o verbo.

No princípio era Deus.

No intermédio:

nada do que foi se fez.

Que se faça a luz.

Nasce o homem.

Homem:

palavra diviva

imagem e semelhança.

Materialidade!

Abstração?


"É através da materialidade que se apreende a abstração."



Letícia Andréia



terça-feira, 15 de setembro de 2009


Viveu a vida como se vivesse um filme de aventuras.
Poucas horas de sono...
Pouco trabalho...
Pouco dinheiro...
Muitos colegas...
Alguns amigos...
Outras mulheres...
Só no vazio ficava a ver o bonde passar.
Se doente?
- não lembra-se desta passagem.
Viveu a vida
Nasceu a idade
Desvendou o mundo
Vendou a mocidade
Depois de conversar consigo próprio
O exílio!
A solidão!
A fera!
A fraqueza!
A morte!
Não foi para o céu
Nem para o inferno
Nem ficou vagando no limbo.
Diz-se que perdera,
Na Terra, o passaporte.


Letícia Andreia

Há poemas e há poemas.
Palavras acercam meus pensamentos
E eu torto
Quase morto
Sórdido e inerte
Ao vai e vem das palavras
que rodopiam
Incansavelmente
Inerentes ao percurso lento
Da pena ao papel...
Palavras
pa – la – vras!
Onde vou que não as tenho?
Pelo sim
Pelo não...
Enlouquecem a razão
E das palavras
Arranco-lhes o sumo.
O forte
O norte.
Poesia é uma doença contagiosa.
E não tem cura.


Letícia Andreia


Santiago - Chile...Praça Central.
Eis aí os filhos do meu ócio!
Eis que doentes são à procura de ti, leitor.
De mais a mais não adianta fugir.
Passar teus olhos sedentos de mim, a poesia.
Viver meus passos rompidos em letras,
Em pontos,
Em vírgulas,
Em reticências...
Sê reticente não lhe pertence, leitor,
Mas a mim, sim.
De todas estarei atenta
Mas não faças de mim só o puro lamento.
Eis aí os filhos do meu ócio...
Eis que a cura se encontra em ti, leitor.


Letícia Andreia

sexta-feira, 11 de setembro de 2009


Afago poético

Ó amigo,
Dedico a ti
Um pouco de companhia
Um afago ligeiro
Para acariciar teu dia
E quem sabe
O teu medo esvaeça de ti.

Conta teus segredos
E não deixe que hiberne
Teus mais doces sonhos.

Mesmo que lá na caverna
Dos teus mais profundos medos
Ecoe o sussurro
Do passado a passos fortes...
Que não seja jamais a prisão
Do teu mais valioso coração.

Da noite escura...
Das almas perdidas...
Da nossa loucura...
Medos pequenos
Da infância perdida
Que assombra o sótão
Com sua nostálgica melodia.
Sim e não.
Que não seja em vão
Tamanha tortura
Pra essa loucura
De sentir medo
Do teu medo cavernal.

Quais são os gigantes?
Moinhos de vento?
Serias ao mar?
Qual urso polaco?
Qual é teu segredo(?),
Amigo lusitano,
Causador de tanto dano
Em tua alma poética?

A quem se perde, presente amigo,
Senão a augusta chama da inspiração?


Letícia Andreia

terça-feira, 4 de agosto de 2009



Um pouco de tédio no poema que pratico.

Quanto maior a dor...

Mais belo o poema fica.

E eu fico!


Letícia Andreia



Vejo uma velha senhora entrar no bar.
Senta-se sozinha...
Sozinha fica.
Sorriso estampado no rosto.
Passado a refletir.,
Não há tempo de sofrimentos.
Apenas reminiscências...

As pálpebras pendem sobre os olhos
Numa demonstração da idade avançada.
Experiência dos dias contados...
Talvez 80 anos ela tenha.
Quem dirá?

Aprecia a cerveja longamente
E saboreia a juventude em sua alma.
Calma,
Tenaz das coisas que viveu.
Quase um século se passou.

É um bom tempo.

Fico emocionada ao vê-la ali...
Feliz!
Sozinha, mas feliz.
No íntimo,
Retomo meu futuro incerto
Na certeza de que aquela sou eu.



Letícia Andreia


Testamento

Um cachorro, um papagaio, uma galinha, um periquito, lembranças de um mundo não muito antigo, lágrimas, ilusões, depressão, sorrisos, amigos (a selecionar), objetos pessoais – uma caixa de poesias (nulas), coração partido em emoções, a identidade resgatada, fios de cabelo (para um possível DNA), vontade de ser gente e poesia, o nome ALEGRIA, uma gramática novinha (pelo desuso), brincos, roupas, moda.
Herdeiro:
Todo aquele que desejar ser nada e tudo ao mesmo tempo.
Portador de emoções.
Livre de preconceitos.
Pertencedor aos ciscos.
Esquecido para poesia.

Letícia Andreia



Voo raso
Voo fundo
Voo no universo
Voo na imensidão do nada.
Quero voar longe
Fronteiras atravessar
Meu medo me toma
Aterroriza!
Vejo o homem...
Sua espingarda
Sua malícia
Seu desprezo por mim.
Tenho vontade de ir além do horizonte
Descobrir o universo das árvores e pertencê-las.
Alimentar-me de novas lagartas
Novos ciscos para meu ninho
Nova passarinha par meu ser
Ou mesmo um tolo passarinho
A me acompanhar
Mas não vou ao voo sombrio do desconhecido.
Prefiro o cativeiro
Tranquilo
Pacato
Seguro.

Hei delibertar-me!
(Antes que meus sonhos se petrifiquem!)


Letícia Andreia


Nós sabemos
Estamos sós
Presos em nossos nós
Um é outro.
E quando morrermos
Nos tornaremos pó
Talvez em terras distantes
Talvez em tempos distantes
Talvez nem mais talvez.
Eu, o pó das cinzas
Você, o pó da terra
Comunguemos, enquanto é tempo
Essa essência da vida
Do prazer
Da amizade
Da união
Entrelaçados, agora, estamos
Eu não vou só
Você não fica só
Somos um
Somos dois
Seremos três?
Ou quantos mais?
Não desatemos nossos nós
Enquanto houver pó

Só.

Letícia Andreia

Eu preciso de você
Do seu gosto
Do seu corpo nu no meu

Eu preciso de você hoje
Agora
Sempre

Meu desejo é intenso
Não consigo domá-lo
Meus olhos no espelho
Procuram sua circunferência

Meu lamento quer
Aos seus ouvidos chegar
Trazer-lhe de volta aos meus braços

Eu preciso de você
Preciso até das suas brigas
Do seu mau humor
Mas eu preciso de você

Só hoje
Agora
Sempre!


Letícia Andreia

segunda-feira, 27 de julho de 2009



Quando nasci
Um psico-anjo
- metido a experto –
Analisou:

_ Mulher,
Vai e toma tua sina
Teu nome será alegria
E de todas as alegrias
Carregará no peito
O fardo de ser gauche
Também.

A vida passa efêmera
E meus olhos vêem
Da janela desse andar tardio
A sombra dos homens fracos.

O dia corre com suas horas
- cheias de pressa.
E no tumulto do faz
- não faz...
A vida ainda fica sem viver.
Não sou tão independente
Que não possa me casar...
Mas a sociedade ainda traz
As nódoas do machismo
- fracassado em sua própria virilidade.

Não aceito todos os subterfúgios
Que me cabem...
E ora sim
Ora não

Revelo-me num poema eterno.
Ainda acho o interior
Um lugar romântico pra se viver.
Contrario minha essência de ser tão prática.

Dor realmente não é amargura
E cada ser decide que não.
Ser errado não é maldição só para racionais.
Os irracionais também erram.
Assim como os tolos
Que não acreditam no perdão.


Letícia Andreia


Sou eterno e único no mundo.
Minha solidão é companheira incansável.
Passei por vidas e vidas a fio.
Amei pessoas e pessoas se foram.
E eu estou eterno.
Atravesso os séculos como uma lança.
Sem lhe ferir,
Sem me acabar,
Sem morrer.
Sou eterno
E meus sentimentos se cansam da solidão.
Já perdi a conta das vidas que vivi.
Já não sei quantas vidas ainda viverei.
Já não sei se verei aqueles que amo partirem.
Quem quer viver para sempre?
Deseja amar para sempre?
Odiar para sempre?
O sempre também acaba.?!
Sou eterno e único no mundo.
Letícia Andreia

Faltou luz...
Dessa penumbra exalam os raios do não ser.
Tocante sombra
Enleva o mais árduo ser nostálgico
Sinistro verme
Que ronda almas serenas
Almas amenas
Almas de menos.
Faltou luz
Sobrou sombra
A nitidez dos olhares esguios procurando
Os vultos do nada.
Mórbido som dos sinos
Que ecoam vorazmente no tímpano doente.
Faltou luz
E não carecia
Que o dia raiasse.


Letícia Andreia

Esperando a dignidade de criança
Mira os horizontes do futuro
Adulto??
Sóbrios momentos entre
O ser e o não ser
O querer
O fazer
A fome está.
Loucos pormenores do hoje
O amanhã espera.
Talvez!
Espera...
Esperando...
Esperanto.
Não mais.
Atuais sorrisos de criança.


Letícia Andreia


Minha alma está de pé quebrado
E não encontra gesso para consertar
Nos dias melancólicos
Minha alma entoa um canto triste
Chora e procura a cura
Há dias que o passado morde mais
E minha alma, de pé quebrado,
Não pode correr
Escondo-me nas alegrias
No sorriso de todo instante
No “Bom dia!”
Escondo-me nos casos corriqueiros
Nas fofocas
Nas peraltices
Nas meninices
E nas tolices mal ditas de brincadeira
Minha alma de pé quebrado
Tem medo do passado
Se encanta com o pássaro azul
Na janela do sótão
Minha alma de um pé quebrado
Tem medo de quebrar o outro pé
E se enraizar como árvore.


Letícia Andreia



Às velas dessa nau errante
O estupor falecimento
A vil memória dilacera o céu
A luz desfaz-se solta – em bruma
Ampla nave Terra
Presença maior de vida não há
Eis que a tenra esfera
És fome
És sede
És luz
Contentamento!
Justo eunuco a deletar intrigas
Rastros malfeitos encerram
Ao zelo
Ao alheio
Transgridem a lei plena
A justiça
O justo – oculto – se entrega
Às penas dores da vida
Inflarei as velas da minha nau
No estupor do meu falecimento
E a vil memória que dilacera o céu
Na augusta luz se desfaz
Solta
E bruma
Na ampla nave Terra
Presença maior não há
Vivendo bem na tenra esfera
És fome
És sede
És luz
E contentamento
Eunuco – vivo -
A deletar intrigas malfeitas
Sob o zelo alheio e oculto
Transgridem a lei plena da justiça.


Letícia Andreia


A bomba
O bum
O bomba
O bum da bomba
O homem bomba
O bom dá bum
O bum da bomba = bonança!
O homem bomba = travessia!
A bomba da vida = orgia!
O homem bomba
Ou a bomba no homem?
Bomba homem bom bum da bomba
A bomba


Letícia Andreia

Aquilo era tudo o que poderia ser
Nem mais
Nem menos
Nem pró
Nem contra
A todos conquistava
E aquilo seguia a vida...
A labuta do dia-a-dia,
Aquilo vencia

Aos medrosos
Aquilo encorajava
Aos corajosos
Aquilo acalmava
E de tudo aquilo
Aquilo era o melhor

Melhor nos sonhos
Melhor nas sombras
Melhor nas luzes
E aquilo andava
Na corda bamba da vida
E aquilo se equilibrava
Atento a tudo e todos
Aquilo caminhava
Forte
Seco
Ávido
Sagaz
E nada
Ou ninguém
Segurava aquilo

Porque aquilo
Era tudo
E para todos o que poderia ser.


Letícia Andreia


Venho nesse canto de fé
Saudar meu povo
Que aqui se criou
Ciranda de roda
Ciranda em canto
Que a mim encantou
Venho de longe
Com lembranças daqui
Pois na ciranda
Meu passado me criou
Venho de perto
Coração aberto
Cantar a ciranda
Que aqui começou
Sou cirandeiro
Cirandeiro eu sou
Meu canto guerreiro é bravo
É forte
Não conta com a sorte
Nem teme a morte
Eu canto a raiz
Nesta ciranda contente
Não há voz temente
Nem grito de dor
Sou da ciranda
Cirandeiro eu sou
Sou porta estandarte
De uma raça forte
Eu canto a raiz
Cirandeiro sou
Meu grito guerreiro
Voa ligeiro
E abre a ciranda
Sou cirandeiro
Cirandeiro eu sou.
Letícia Andreia

Testamento II

Deixo metade do que sou
Para a fraternidade dos coitados!
A outra metade...
Deixo para o infeliz que herdar meu gene.

Deixo meu auto para aquele que necessita caminhar.

Deixo minha coleção de livros
(nada!)
Para os que não querem ler.

Deixo o relato do que gastei
Para o outro em meu lugar.

Ah!
Tem a conta na Suíça...
Essa... Pensarei quando voltar da morte.

No mais...
Os meus demais bens não materiais
Deixo para qualquer homem,
Afinal,
Somos todos iguais.
Letícia Andreia


És tudo no nada
Ausente ao teu próprio presente.
Sombrios desejos teus
Ocultam o melhor em ti.
Sombrio silêncio...
Tua ausência
Tua ironia
Tua melancólica lembrança
Do que poderia ter sido...
E não é!
És tudo no nada
No vácuo
No acaso.
(...)
Acaso pensaste
(realmente)
Em ti?
Só por um milésimo?
Silêncio!
(...)
És vácuo!
És tudo!
Apenas,
Não o que
(necessariamente)
Poderias ser.
Letícia Andreia


Tic – Tac
Tic – Tac
Tic – Tac
Tic – Tac

Esse é o de dentro.

Tac – Tic – Tac
Tic – Tac – Tic
Tac – Tic – Tac

Esse é o da cama

No vazio do sono
O discurso prolongado
Das horas lentas no relógio.
- os relógios – eu diria.
Se fossem “cucos”
Eu ficaria louca
Na insônia que ronda minhas noites desertas.
É doentio isso.
Com tantos malabares ao fazer no dia seguinte...
E eu?
No Tic – Tac
Tac – Tic
Tac – Tic
Tic – Tac
Dos relógios conversando.
Viva a modernidade!

Necessito comprar digitais.
- São mais silenciosos.
E as horas – neles –
Não marcam o vazio.

Letícia Andreia