segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Foram três ais.

Ai! Ai! Ai!
No ai primeiro,
Viu-se o homem ainda menino.
Recém saído de suas fraldas.
Engatinhando
Depois andando
E então falando.
Sapecando suas peraltices pelos quatro cantos da terra.
No segundo ai,
O homem já se desnudara para o mundo
E as coisas da terra
Viram-se descobertas
As peraltices ganharam novo prumo
E ai daquele que em seu caminho travasse línguas.
De tudo era um desbravador
De todos sentia-se superior
Conquistou bens
Realizou sonhos
Plantou uma árvore
Plantou um filho
Plantou um livro.
Sentou-se na plenitude do saber
Sentiu-se o dono das verdades
Sentiu-se o encantador das mentiras.
No ai terceiro,
Gastou tudo o que tinha,
Perdeu seus bens mais valiosos:
O amor
Os amigos
A família.
Sentiu-se só
Desamparado
Quis retroceder
Mas o tempo
Ai!
O tempo não para
Dilacera em verrugas a alma
E desse ai,
Tornou-se maduro
Sentiu-se pronto.
E já era hora
Não haveria tempo pra mais um ai
De quando em quando
As lembranças vinhas lhe povoar
Derramou lágrimas pelo tempo perdido.
Nesse ai terceiro,
Aprendeu o verdadeiro valor das pessoas.
E ai que chegou a hora do juízo final.
Dos três ais
Guardou as experiências
De nada terreno levou
E ai que se arrependesse de tudo
E ai que virasse humano

E ai que partiu sem pranto.


 
Letícia  Andreia

domingo, 27 de setembro de 2009

Fui ao céu falar com Deus
São Pedro não me deixou entrar
Chamou Irene pra me mandar embora
Irene me reconheceu
Deu um riso largo
Mandou que eu entrasse pela porta dos fundos
Entrei sem fazer barulho.


Letícia Andreia

Quero ser, agora,
O rato de esgoto,
Grande, gordo, dentuço...
Que ronda alegre
Meu triste fim.
No túmulo jaz
Minha história.
E a vida que aqui vivi.
Ficou o exemplo do que não fui.
Sou apenas o espírito que ronda,
Ronda, ronda e rói.
O rato do túmulo...
Sozinho,
Acompanhando os vermes.
Dilacerantes na carne morta.
Mas a alma,
Que jaz alma,
Agora liberta procura a paz.


Espírito.


Letícia Andreia

Para Marília Abduani



Para grande amiga, Marília Abduani.







Marília, Marília
É um som
Uma certa melodia
É pura poesia!
Marília,
Que do sonho conduz à realidade
E da realidade ao sonho...
Que lágrimas não vejo
E se existem, são diamantes.
Qual dor é a sua?
Ou onde ela se esconde?
Que não posso senti-la.
Apenas a poesia!
Marília, Marília...
Daí não sei se finge ou finjo
Se corre ou fujo
Se perto ou longe...
Quero ficar de você...
O eco da poetisa,
Por onde devo procurar?
Nem sei se quero encontrar...
Você, Marília,
Que não é de Dirceu,
Que não é Maria,
Mas, simplesmente,
Marília!
Simplesmente, poesia!
E agora, Marília?
E agora?
Que atrai e se espelha...
Se espalha e se entrega...
Marília, e agora?
Por quantas anda?
Onde está?
Tão perto e tão longe...
Quais mãos a leram?
Quais olhos a tocaram?
Suas dores, (que não há)
São as minhas alegrias
São as deles também.
É poeta, poetisa, então finge
E ao fingir sente
Este vale de lágrimas.
Se é bíblica, não sei.
Se é literária, não sei.
Se é profunda, eu sei.
Ou profana? Jamais!
Oh!, Marília,
Que pelo seu mar
Eu me desfaço – ilha.
Mar – ilha!
Mar...ilha!
Ilha...Mar!
Marília!
Eu viro e (des) viro
Eu faço e (des) farço (não des-faço)
Mas você, com seu mar,
Suas ondas a me golpear...
Minha farsa se (diz) farsa
E num instante de um traço
Nasce uma breve melodia:
Marília!
É mar...
Se é ilha...
É o fim da trilha!
É pura!
É bela!
É mar!
Não é ilha!
Apenas Marília!



Letícia Andreia 27/08/2003
Para o amigo poeta,  Gilberto


Muito bem, seu réu poeta,

teu repouso acorda meus versos

tua ilusão é minha doce mentira

teu amor é meu gozo prfundo

teu sussurro, meu grito mudo
teu erro, minha traição poética
teu sonho embala meus pensamentos
teu soluço, meu nó na garganta
tua observação é meu olho esquerdo
teu descuido, meu único pecado
ao declamares, embriago-me em teus versos
teu sofrimento, simplesmente,
réu poeta, é minha paixão.


Letícia Andréia

Um tango solto rola no ar


Ao imperador clamo a bailar

A nova busca se dispersou

O amor na música se apresentou

Baila Baila comigo

Dá-me o teu calor

Neste bailar colorido

Um tango a mais não fará mal algum

Um violino chama instintivamente

O bandoneón conduz ao ritmo

Pode até mesmo a gaita

Penetrar a alma

No compasso do coração

O bate bate

O bate bate do baixo

Faz vibrar a emoção

E venha comigo bailar

Venga...venga... ouça o violino

Yo me voy

Só mais um tango

Nesta vida quero este gosto

Baila comigo mais um tango

Não me importa que seja o último

Tã Tã Tã ....taaaarãrãrã

Tã Tã Tã ....taaaarãrãrã

Argentina, só mais um tango

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Mesmo que não voltes mais, imperador

Baila comigo só mais um tango

Mais este tango

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Argentina, só mais um tango

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Relembra o olhar que fuzilaste

O rodopiar do bailar no salão

É só mais um tango argentino

Mis manos locas

No se puedo

Tocar con ellas el cielo

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Cómo se equivocaron nosotros

Baila comigo

Pero yo quiero que bailemos este tango

Bien juntitos

Um tango solto

Mas envolto em nossos cariños

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Argentina, só mais um tango

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã rã tã Tã Tã Tã rã tã

Tã Tã Tã ....taaaarã

Tã Tã Tã ....taaaarã



Letícia Andreia

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Amigo poeta,

quão grande é teu poema
quão distante estás de mim
quão perto nossos poemas se cruzam
quão belo o jogo das palavras......
não quero competir contigo...
ensina-me a meiguice de tuas palavras...
saltitantes no papel...
qual tábula rasa...
que nada ....
está mais para um tecido.


Letícia Andreia
Dizem-me louca
Uma loucura gostosa de ser
Um jeito meio muleca
Meio travesso no meio de tudo
No meio do nada
Um jeito feliz de ser louca
Uma loucura feliz de viver a vida...

Falam-me louca
De não entenderem o porquê
O porquê do meu jeito gostoso de ser...

Pensam-me louca
louca
louca
louca
Mas eu digo que ainda sou pouca
Popucas palavras...
Poucos vinhos...
Poucos rios...
Poucas estradas...
Poucos ninhos...

Acreditam-me louca
(doida varrida?)
Não posso crer!

Quão diferentes formas hei de ser?

Quando uns dizem da minha loucura
Sinto o desprezo que têm por mim.

Quando outros dizem da minha loucura
Lamento a inveja que sentem por mim.

Mas alguns...
bem poucos...
Ah! Alguns bem especiais...
Quando dizem, falam, pensam, acreditam...que sou louca
Fazem um carinho gostoso no ego.
É um jeito irregular
De se dizerem amigos
De sentirem orgulho
De se lembrarem
De valorizarem...

Só não posso permitir
O equívoco da loucura de ser poeta
Pois as palavras são muitas
Ecos profundos...
E eu?
Apenas pouca...
Louca!


Letícia Andreia

Para um conterrâneo que tenho tanto orgulho em chamar de amigo.

Canta e encanta com teu canto
Ó pássaro sem ninho.
Onde pousas com tua voz?
Onde encontras teu verdadeiro eu?
Quem diria...
que tua voz um dia...
que tua bela melodia...
silenciaria presa na garganta...
com teu canto preso... no oco das ações?
Jamais!
Solta teu canto...
a qualquer canto.
Qual canto a ti mais encanta?
Canta com teu canto o broto da vida.
Aquela vida perdida...
Os dias que não voltam mais...
Canta com teu canto...
o encanto que há na tua terra...
bela e serena.
Tua raiz...
Ó amante da guitarra
Teu lirismo traz alegria
Tuas noites não menos amenas...
nem menos insanas...
Teus dias mais risonhos..
Canta...
mas não senta a pua.
Nem vive apenas a sonhar.
Solta teu canto.
Pois teu canto a mim encanta
e pra ti eu faço um canto,
mas não tem o mesmo encanto
que os versos teus...
Tuas mãos na guitarra...
afrouxam o nó da garganta
e desliza a melodia pela lacuna do tempo.
Canta e encanta com teu canto mágico.
O mais puro...
O amável...
O sensível.
O mais belo canto.

Letícia Andreia

quinta-feira, 24 de setembro de 2009


Estou predisposta para o ato de escrever.

Momentaneamente a invasão da palavras

venceram meu tempo,

pouco a pouco...

e cá estou.

Transeunte relápsa entre as tumultuadas avenidas das palavras.

Abro os olhos e vejo uma geração dispersa.

Não é perversa - mas seus valores...

se corrompem.

Estou predisposta

E essa predisposição niquila qualquer trabalho poético.

O lirismo torna-se pendente,

o ócio torna-se o ápice.

Cerro os olhos

e o que vejo é a penunbra do passado.

Sua sombra nostálgica.

O pouso da libélula na água...

O círculo me centraliza para musgo.

Eu oca.

E nada faço contra.

Pois estou predisposta para o ato de desescrever.


Letícia Andreia

Homem - Semelhança:

Imagem!

Simbologia!

Dominação!

Homem versus consigo próprio.

Sistemas...

Simbologia.

Real!

Imediato!

Conjunto de abstrações?

- Coração humano!

Real - indisprezível - realigade.

Da mitologia:

Brama

Ícaro e Dédalo

e outros.

A religião.

A fé.

O pó.

O nó.

No princípio era o verbo.

No princípio era Deus.

No intermédio:

nada do que foi se fez.

Que se faça a luz.

Nasce o homem.

Homem:

palavra diviva

imagem e semelhança.

Materialidade!

Abstração?


"É através da materialidade que se apreende a abstração."



Letícia Andréia



terça-feira, 15 de setembro de 2009


Viveu a vida como se vivesse um filme de aventuras.
Poucas horas de sono...
Pouco trabalho...
Pouco dinheiro...
Muitos colegas...
Alguns amigos...
Outras mulheres...
Só no vazio ficava a ver o bonde passar.
Se doente?
- não lembra-se desta passagem.
Viveu a vida
Nasceu a idade
Desvendou o mundo
Vendou a mocidade
Depois de conversar consigo próprio
O exílio!
A solidão!
A fera!
A fraqueza!
A morte!
Não foi para o céu
Nem para o inferno
Nem ficou vagando no limbo.
Diz-se que perdera,
Na Terra, o passaporte.


Letícia Andreia

Há poemas e há poemas.
Palavras acercam meus pensamentos
E eu torto
Quase morto
Sórdido e inerte
Ao vai e vem das palavras
que rodopiam
Incansavelmente
Inerentes ao percurso lento
Da pena ao papel...
Palavras
pa – la – vras!
Onde vou que não as tenho?
Pelo sim
Pelo não...
Enlouquecem a razão
E das palavras
Arranco-lhes o sumo.
O forte
O norte.
Poesia é uma doença contagiosa.
E não tem cura.


Letícia Andreia


Santiago - Chile...Praça Central.
Eis aí os filhos do meu ócio!
Eis que doentes são à procura de ti, leitor.
De mais a mais não adianta fugir.
Passar teus olhos sedentos de mim, a poesia.
Viver meus passos rompidos em letras,
Em pontos,
Em vírgulas,
Em reticências...
Sê reticente não lhe pertence, leitor,
Mas a mim, sim.
De todas estarei atenta
Mas não faças de mim só o puro lamento.
Eis aí os filhos do meu ócio...
Eis que a cura se encontra em ti, leitor.


Letícia Andreia

sexta-feira, 11 de setembro de 2009


Afago poético

Ó amigo,
Dedico a ti
Um pouco de companhia
Um afago ligeiro
Para acariciar teu dia
E quem sabe
O teu medo esvaeça de ti.

Conta teus segredos
E não deixe que hiberne
Teus mais doces sonhos.

Mesmo que lá na caverna
Dos teus mais profundos medos
Ecoe o sussurro
Do passado a passos fortes...
Que não seja jamais a prisão
Do teu mais valioso coração.

Da noite escura...
Das almas perdidas...
Da nossa loucura...
Medos pequenos
Da infância perdida
Que assombra o sótão
Com sua nostálgica melodia.
Sim e não.
Que não seja em vão
Tamanha tortura
Pra essa loucura
De sentir medo
Do teu medo cavernal.

Quais são os gigantes?
Moinhos de vento?
Serias ao mar?
Qual urso polaco?
Qual é teu segredo(?),
Amigo lusitano,
Causador de tanto dano
Em tua alma poética?

A quem se perde, presente amigo,
Senão a augusta chama da inspiração?


Letícia Andreia